Conselho do Juventus da Mooca barra SAF que venderia futebol à empresa italiana

07 jun 2022
'A proposta não era benéfica ao clube', diz a conselheira Eloísa Machado, que votou pela reprovação do projeto

O Conselho Deliberativo do Juventus, tradicional clube do bairro da Mooca, vetou na noite de segunda-feira por 56 a 49 votos a proposta de constituição da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), separando o futebol da parte social. O estatuto determina um quórum de 2/3 para aprovação. A proposta contemplava a venda de 90% das ações por R$ 13 milhões para o grupo italiano AlmavivA do Brasil, do ramo do telemarketing, que preferiu não se posicionar à reportagem do Estadão antes da votação.

Também estava previsto no contrato a transferência do estádio na Rua Javari à SAF, que pagaria um valor mensal de R$ 30 mil à associação (clube) pelo uso. Já estava prevista uma Assembleia Geral de sócios nos próximos dias para decidir se os associados aprovariam a venda do futebol do Juventus, mas foi cancelada após a reprovação dos conselheiros. O clube informou em janeiro que suas dívidas estavam "equalizadas e controladas".

A advogada em direitos humanos e conselheira Eloísa Machado comemorou a reprovação da proposta, que achou prejudicial ao Juventus. Eloísa, que mora perto da Rua Javari e é sócia do clube desde criança, questionou vários pontos do projeto. "O principal problema foi que o clube perderia o comando sobre o futebol. Um segundo ponto é que a negociação, dentro da perspectiva dos conselheiros, não apresentava grandes atrativos. Ficamos sem entender porque algumas opções foram feitas, como abrir mão de alguns benefícios da lei da SAF, de algum eventual lucro ajudar a pagar dívidas do clube, o valor baixo da compra, a forma de pagamento ruim. A proposta não era benéfica. Nós, conselheiros, ficamos sem entender porque essas decisões foram tomadas. A proposta de aluguel do estádio também era bem abaixo do que se imaginaria e sem nenhuma garantia", conta.

"Hoje, respiramos aliviados que podemos pensar em boas propostas. É possível pensar em ideias menos predatórias onde o clube pode manter o seu futebol. Espero que outros clubes que tenham tradição e relevância analisem essas propostas com cuidado".

O Juventus foi eliminado na primeira fase do Campeonato Paulista da Série A2 deste ano. A equipe não disputa a primeira divisão estadual desde 2008. Agora, o time concentra suas forças para a disputa da Copa Paulista. O primeiro adversário será o São Bernardo, no dia 3 de julho.

Juventus, clube tradicional e de origem operária
O Juventus foi fundado em 1924 com o nome de Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube, como um time amador de operários de uma fábrica têxtil, de mesmo nome, no tradicional bairro da Mooca, na junção dos times de várzea Extra São Paulo FC e Caval. Seis anos depois, o dono Rodolfo Enrico Crespi sugeriu mudar o nome da equipe para Juventus, em referência ao grande time italiano. As cores também seriam trocadas para evitar ficarem semelhantes a de outros times da cidade. O grená do Torino, do rival da Juventus italiana, foi o escolhido.

O clube é um dos grandes símbolos do bairro da Mooca, que na década de 1930 foi um dos principais cenários da atividade política do Brasil devido à natureza industrial. O bairro, tradicionalmente ligado à colônia italiana, também foi reduto do Partido Comunista Brasileiro. A 700 metros do estádio, está a Praça Vermelha, que foi berço do sindicalismo paulistano. O nome, claro, é uma alusão à famosa Praça Vermelha, de Moscou, na Rússia. Em 1917, antes da fundação do clube, operários do Cotonifício Rodolfo Crespi organizaram uma grande greve, que buscava condições dignas de trabalho, se espalhou pela cidade e outros estados.

O Juventus está a dois anos de completar seu centenário e tem como maiores glórias a Taça de Prata de 1983, equivalente à Série B do Campeonato Brasileiro, o Paulista de 1934 e a Copa Paulista de 2007. Ganhou o apelido de Moleque Travesso do jornalista Tomas Mazzoni, na histórica e surpreendente vitória sobre o favorito Corinthians por 2 a 1, em pleno Parque São Jorge, em 1930. O clube tem como ídolos nomes como Ataliba e Clóvis Nori e revelou alguns grandes jogadores como Lima, que fez história no Santos.

A Rua Javari se mantém ainda intacto em meio à expansão imobiliária e às transformações que o bairro passou nas últimas décadas. A paisagem arquitetônica mudou, mas a casa juventina segue viva. Nos últimos anos, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp) tombou o estádio, que passou a ter o campo, as arquibancadas internas e os alambrados preservados.

Fonte: Terra


Atenção: Algumas notícias são reproduções de outros sites (com a devida referência) podendo conter rumores e/ou notícias ainda não divulgadas pelo clube. Utilize o espaço de comentários abaixo para debater de forma saudável os assuntos com os outros leitores. Comentários que o juve.com.br identificar como inadequados serão removidos sem aviso prévio.

Encontrou algum problema com esta notícia? Por favor, entre em contato conosco.

Compartilhe esta notícia com seus amigos:

Comentários