Como me tornei Juventino?
Por: Marcos "Marcuccio" Caiafa em 04 set 2016
A história de como comecei a torcer para o Moleque Travesso
Outro dia me perguntaram: "Ué, virou a casaca ? Você não torcia pra outro time ?"
Torcia, sim. Kit completo: Camiseta (original, produzida por um famoso fabricante multinacional. Bem cara mesmo), presença constante em grupos do time nas redes sociais, não perdia um jogo na tevê. Achava legal quando algum atleta se fantasia de rinoceronte ou alface para estrelar uma peça publicitária qualquer e, vou além, que as arenas representavam o futuro do futebol, verdadeiras catedrais ao culto pagão do esporte bretão. Engraçado que os mesmos que tanto se gabavam que seu time tem uma arena imponente, hoje reclamam dos preços abusivos dos ingressos e a distância do campo.
Só rindo mesmo.
Veio a tão esperada Copa do Mundo no Brasil, e os elefantes brancos pareciam se acasalar e procriar sem controle país afora. Outra coisa sem controle, a ganância do pessoal da FIFA em gerar escândalos e vergonha alheia. Aos poucos, fui me desligando do futebol. Mineirazo à parte, não via mais graça naquele circo de sorriso amarelo e cínico. Boleiros milionários jogando com a cabeça longe, longe. Locutor esportivo puxando a sardinha pra ver se o fulaninho é convocado e ganhar seu prometido percentual. Dirigente comprando gato travestido de lebre atrás de comissão. Arenas construídas com dinheiro sujo. Empresário fazendo crer que tudo isso é um grande negócio. Mas não é.
Parei por completo em acompanhar futebol. Quando precisava sair pra ir no mercado, se a do time fosse a única camiseta disponível no momento, sentia vergonha em vesti-la. O amor, se transformando em asco.
Sentado à frente da TV, domingo à noite, acompanhado da família (esposa, filha e três gatos) me deparo com uma pauta sobre as 'peculiaridades da Mooca'. Lembranças de infância, há muito esquecidas. Sou paulistano, neto de italianos, há décadas morando fora do estado de São Paulo (resido em Curitiba desde 1985). Alguma coisa estalou na minha cabeça. Mas atingiu o coração.
Aquela pauta televisiva, mostrando os italicismos, o falar com as mãos, a culinária e, principalmente, um monte de apaixonados por uma certa cor grená me fez pesquisar como andava o Moleque Travesso, que a mídia solenemente ignora há tempos. Minhas pesquisas mostravam o time com uma história rica, bela e como foco de resistência a tudo o que eu mais execro neste neofascista futebol moderno. Sua torcida, ao herdar o sangue italiano, não tem meios termos. Ou se ama, ou se ama. Como família. E, mais importante, não é possivel desvincular o conceito de família de lar. E a nostra casa, a Javari, é linda, acolhedora e tem cheiro, alma de casa da gente. Ali se xinga, chora, ri, pessoas se encontram. Uma metáfora aos almoços da mamma aos domingos, só que numa escala maior.
Sabem aquele estalo na cabeça que citei algumas linhas atrás? É que no caso do Juventus, não é um cupido de fraldinha e cabelinho de anjo que aparece do nada e flecha o coração da gente. É um molequinho, travesso, que com seu estilingue joga uma bela duma pedra na cabeça da gente. E a partir desse dia você passa a ver a vida com outra cor. Grená. E passa a repetir mantras... um deles é "Vamos torcer juntos Juventus, e daqui nunca mais sair". Não saio. Por nada deste mundo. Não importa a divisão. Se não tem o Juventus no videogame, eu crio. Se não passa o jogo na TV tem a Web Radio Mooca...
Sim, Juventus, eu estou aqui!
Marcos "Marcuccio" Caiafa
Paulistano, juventino, exilado em Curitiba. Escreve para a página Casa Nostra, no Facebook
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