Quando saio na rua com a camisa grená

Por: Marcos "Marcuccio" Caiafa em 11 set 2016
Ação e Reação

Desde a minha devida e irrevogável conversão ao juventismo ortodoxo, opto - às vezes até involuntariamente, em vestir-me de grená. Com ou sem o escudo, oficial, retrô ou uma camiseta qualquer mesmo, dessas que a gente compra em mercado. Essas que a gente prega o escudo que comprou via internet. Não importa.

Gosto de reparar no olhar das pessoas, ver suas reações, imaginar o que pensam. Os mais novos talvez não se dão conta do peso dessa camisa. Nos mais velhos, percebo um olhar de admiração, tipo "nossa o cara é Juventus". Faço questão de ressaltar ao caro leitor que moro em Curitiba, e uma camisa grená por aqui se destaca mais na paisagem dominada por alviverdes coxas-brancas, rubro-negros atleticanos e tricolores paranistas. Tem o J. Malucelli também. Mas "não tão" também.

Alguns puxam assunto. Como o atendente de uma famosa rede de livrarias, todo simpaticão:
- O sr. é juventino? (Não, uso essa essa camisa com esse "J" enorme no peito porque sou fã do JOTA Quest). Penso até em dar essas respostinhas atravessadas, mas na hora H sempre opto pela diplomacia. Eu sei, é um defeito meu.
- Sou, sou juventino sim (mas o meu olhar, mezzo cinismo de Nelson Piquet mezzo saco-cheio de sangue calabrês diz muito mais do que isso).
- O time que o Pelé marcou o gol mais bonito da carreira dele... Fizeram até uma estátua, por causa disso, né?
- É, fizeram. Mas eu prefiro o busto do Clóvis Nori.

E a conversa acaba aí.

Ou ainda nos corredores de um prosaico supermercado:
- Onde você comprou essa camisa ? É bonita demais ! A branca também ! Mas prefiro a VINHO.

Dói nos ouvidos. Vinho? Na minha mesa só, com pizza... Mas colecionadores de camisas de futebol são um universo à parte. Geralmente entusiastas do nosso Juve. E aí, uma animada conversa pode durar horas a fio, na seção de verduras ou dos produtos automotivos. Com direito a plateia de donas de casa, esposas impacientes e tudo. Essas conversas com colecionadores terminam quase sempre na indicação de sites e páginas de produtos do Juve... Vou começar a pedir comissão, meus caros Miojo e Oswaldo...

Já encontrei (até) juventinos por aqui, na terra dos pinheirais. O professor de Biologia da minha filha, por exemplo. Sim, meu amigo Pedro Paulo, precisamos marcar de comer umas braciolas e relembrarmos a Mooca qualquer dia desses, bello...

Alguns se desmancham em elogios e admiração, na linha do "Ah, o famoso Moleque Travesso! Aprontava (ênfase no pretérito imperfeito) sempre com os grandes!" ou "Juventus... Nossa, que camisa linda". As reações que mais me causam desconforto invariavelmente vem dos mais jovens. Quase sempre usando camisa oficial de times estrangeiros e cabelinho imitando seu ídolo intergalático: "Nossa, eu achava que o Juventus tinha acabado..." E não foi uma, duas ou três vezes que escutei isso. Obviamente não culpo ninguém por isso (exceto a mídia, claro, por ignorar solenemente o juve).

Aliás, conversando com um jornalista esportivo de um grande conglomerado de comunicação carioca, amigo meu, soltou-me à queima-roupa o argumento que "Não foi a imprensa que esqueceu o Juventus não, Marcão. Foi vocês que pararam no tempo". Na hora, confesso, travei.

A conversa mudou de assunto, mas fiquei com essa frase martelando na cabeça. Por dias. Semanas, talvez.

Não que o mero fato do Juventus não frequentar o tal grande conglomerado carioca me incomode. Muito pelo contrário. Nem faço a menor questão, no fundo. Outros times grandes também não são figurinhas carimbadas... Amor não pode nem estar condicionado a exposição na mídia, títulos e/ou divisões. Me perdoe se alguém pensa dessa forma, mas me soa como "relação de interesse". Como a de uma mocinha bonita e seu marido alguns anos mais velho e... rico. Na verdade o que me incomodou mesmo foi o peso da frase. "Vocês que pararam no tempo". Mas, convenhamos, há quanto tempo não disputamos uma competição de âmbito nacional? Há quanto tempo estamos longe da A1 Paulista? Há quanto tempo não erguemos um troféu?

É. Faz tempo.

Foto Autor
Marcos "Marcuccio" Caiafa
Paulistano, juventino, exilado em Curitiba. Escreve para a página Casa Nostra, no Facebook

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